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Mapa das Artes|Afetos

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No mapa da cidade, o Serviluz não está presente com o nome que o bairro se deu, com o qual os moradores do bairro se reconhecem. “Oficialmente, essa comunidade não existe como bairro na administração pública municipal” (NOGUEIRA, 2015, p. 143). No mapa administrativo, esse mesmo território aparece como Cais do Porto. Essa diferença entre o nome reconhecido e praticado pelos habitantes do território e o nome de registro pelo governo municipal foi um dispositivo para diversas ações de pesquisa com os moradores, em torno do nome e em torno de seu mapa, na relação território-cidade; em torno de suas casas e em torno das histórias de seus moradores e suas práticas.

Nos estudos de Nogueira (2006; 2015), além de trazer as histórias de vida dos moradores, suas lutas e modos de resistir, ao longo dos anos, também partilha a história do nome do bairro:

SERVILUZ era o nome do antigo Serviço de Luz e Forca de Fortaleza, empresa geradora de energia elétrica construída em 1954. Após a desativação da usina, tornou-se também o nome popular da pequena “favela” que a circundava, sendo nessa denominação que seus moradores passaram a se reconhecer. “Aqui é o Serviluz: de dia falta água e de noite falta luz”, dizia uma antiga anedota local que denunciava a inexistência de energia elétrica, por longo tempo, nos domicílios que se localizavam ao lado da usina. (NOGUEIRA, 2015, p. 143).

 

Se a precariedade, como o saneamento básico e a coleta de lixo, ainda é realidade, podemos afirmar que a força dos moradores se faz ainda mais presente tanto nas formas de organização dos coletivos e associações, como nas ações de cuidado e atenção ao bairro e as formas de produção e preservação da memória. E, nessa perspectiva, partilhamos a experiência com o processo de criação do Mapa das Artes do Serviluz, também nomeado Mapa dos Afetos, justo por trazer em suas inscrições as marcas e memórias das intervenções artísticas que se espalham por praças, praias e ruas, sem esquecer do Farol e dos inúmeros aliados. Como força inventiva, fazem acontecer os encontros com o Serviluz que, como afirma Gomes (2017), “insiste em fazer a sua história”. Uma cartografia em constante movimento, tal como o Serviluz.


Na composição do Mapa das Artes, foram envolvidos os coletivos que fazem parte da Associação de Moradores do Titanzinho – Coletivo AudioVisual do Titanzinho, Servilost, Grupo de Teatro Dito & Feito e o LAMUR –, além de artistas, pesquisadores e colaboradores de outros bairros da cidade na realização de rodas de conversa, oficinas e, principalmente, na pesquisa de inúmeras caminhadas com o bairro, iniciadas em 2011. Caminhar, que se apresenta como um dispositivo da pesquisa:

[...] precisamente pela sua intrínseca característica de simultânea leitura e escrita do espaço, se a presta a escutar e interagir na variabilidade desses espaços, a intervir no seu contínuo devir com uma ação sobre o campo, no aqui e agora das transformações, compartilhando desde dentro as mutações daqueles espaços que põe em crise o projeto contemporâneo. (CARERI, 2013, p. 32).


O processo de criação teve início com uma oficina, trazendo uma diversidade de mapas impressos e digitais, pensando nos contrastes entre diferentes modos de visualizar espaços em uma perspectiva topográfica e as possibilidades de criarmos acessos a outras topologias urbanas. Nesse exercício, visualizamos mapas de muitos lugares, depois projetamos o “mapa oficial” da cidade de Fortaleza, no qual o bairro é denominado Cais do Porto, como citado anteriormente. Ao projetarmos o mapa, traçamos linhas entre desvios e brechas de um mapa desenhado em partes, que depois seriam unidas.

Um segundo momento foi pautado por conversas com a escolha de temas, sendo priorizadas ações em artes e com quem atuamos (ou queremos atuar) e também com aliados que apoiam as intervenções com artes, além de outros temas que nos afetam. Depois de escolhermos os temas, passamos para o mapeamento das ações artísticas com o bairro. Em seguida, realizamos encontros para compor o mapa com as artes e tudo que escolhemos apresentar, sendo necessário, antes, situarmos os locais onde as intervenções acontecem no bairro, utilizando adesivos coloridos. 
 

A última ação foi a composição do mapa digital, com a criação de ícones para cada um dos temas e intervenções, e o desenho do mapa com a inspiração no traço da xilogravura, ambas ações realizadas por Bruno Ribeiro (Spote), um dos artistas do bairro, e a colaboração da artista visual Bruna Beserra.
 

Cada passo dado no processo de criação do mapa foi vivido em suas potencialidades e possibilidades, sendo visto como um dispositivo que deseja ser interferido e recriado, pois, assim como “os afetos são devires” (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 42), também 

O mapa é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente. Ele pode ser rasgado, revertido, adaptar-se a montagens de qualquer natureza, ser preparado por um indivíduo, um grupo, uma formação social [...]. Uma das características mais importantes do rizoma talvez seja a de ter múltiplas entradas… (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 22).

Um mapa em movimento que nos faz pensar a ocupação dos espaços-tempos urbanos, a relação entre os bairros e a cidade, bem como os modos de nos relacionar, habitar e partilhar o cotidiano.  Um mapa que pensa a arte como exercício do viver com, conviver criando encontros, transitando por outras geografias de sentidos, traçando territórios sensíveis.
 

No Mapa, ganharam relevo intervenções artísticas que acontecem com as ruas, becos, praças e o Farol, recebendo destaque as expressões com o cinema e o audiovisual, em especial, as Mostras AudioVisuais do Titanzinho e das sessões do Cine Ser Ver Luz, realizadas de modo itinerante pelo bairro. Também foram mapeadas expressões da arte urbana (graffiti, estêncil, lambe lambe, pixação, entre outras), apresentações do grupo de Teatro Dito & Feito e do Teatro Verde Luz, ambos do bairro, e também uma apresentação do Grupo Nós de Teatro (de outro bairro da cidade), além de criarmos ícones para localizar as Associações de Moradores, as Escolas (inclusive as de surfe), Praças, os Picos de Surfe, e os Comércios e Bares que apoiam as atividades artísticas no bairro.

O Mapa foi realizado em oficinas de criação com os participantes do Coletivo AudioVisual do Titanzinho, do Coletivo Servilost, do grupo de teatro Dito & Feito, que moram no bairro e participam da Associação dos Moradores do Titanzinho, contando também com a presença de artistas, pesquisadores e colaboradores de outros bairros da cidade.

mapa Serviluz com Artes - processo de criação agosto 2017 - 89.jpg

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Encontro|Conversa com estudantes da disciplina de Geografia, na Escola Álvaro Costa, no Serviluz

O Mapa das Artes com o Serviluz foi criado com o desejo de ser um dispositivo que instigue novos encontros, conversas, experimentações e partilhas singulares e coletivas com as artes e com o que nos afeta no bairro Serviluz.  

No dia 17 de maio de 2018 realizamos uma conversa com os estudantes do 8º ano C, da na Escola Municipal de Tempo Integral Professor Álvaro Costa, dentro das aulas de Geografia, onde acontecia um processo de aprendizagem e construção de diversos conceitos de mapa. 

A conversa foi disparada por Fabíola Gomes, membro do Coletivo AudioVisual do Titanzinho e participante da Pesquisa Cinema In(ter)venção: Cine Ser Ver Luz, em colaboração com Priscilla Sousa, do Coletivo Servilost, grupos que compõem a Associação de Moradores do Titanzinho. 

O encontro foi mais uma das atividades que esses estudantes vinham experimentando - passeio pelo bairro, criação de seu próprio mapa afetivo e análise de outros mapas. Na conversa contamos um pouco de nosso processo criativo visando uma compreensão crítica e afetiva sobre as potencialidades que a cartografia nos possibilita (vi)ver.

Agradecemos à coordenação e direção da escola e ao professor Emanuelton Antony, responsável pela disciplina de Geografia, que compôs esse momento com a gente!

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Texto de apresentação do Mapa das Artes | Mapa dos Afetos com o Serviluz retirado do capítulo
MODOS DE HABITAR|OCUPAR O TERRITÓRIO, COLABORAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE E BAIRRO. Autores: Deisimer Gorczevski e João Miguel Diógenes de Araújo Lima no livro: "ENTRE TERRITÓRIOS E REDES. ARTE, MEMÓRIAS, CIDADES. Interlocuções internacionais. Co-pesquisa em contexto global." Organizadoras: Lilian Amaral e Rosana M. P. B. Schwartz. (no prelo) 

Texto de apresentação do Encontro|Conversa com estudantes da disciplina de Geografia, na Escola Álvaro Costa, no Serviluz retirado da publicação no facebook do LAMUR: https://www.facebook.com/media/set/?vanity=cineclubeserverluz&set=a.1295118263974152

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