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Oficina de Cineclube

E com esses aprendizados o processo de criação do Cineclube NBS seguiu em frente, passando a preparar as primeiras sessões, formando a curadoria dos filmes e, em seguida, a composição do zine de divulgação com a colaboração do Coletivo Servilost e da Associação de Moradores do Titanzinho. Aconteceram algumas sessões na sede, bem como na rua do NBS. 

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Com o desejo de criar um cineclube no Núcleo de Base do Serviluz, participantes da ONG entraram em contato com o Coletivo AudioVisual para construírem um processo de formação. O Coletivo foi receptivo e propôs uma oficina para acontecer em três dias, sendo um encontro a cada semana, em março de 2018, na sede do NBS.

A oficina foi organizada coletivamente, partindo-se de questões que os propositores julgaram interessantes, como: O Cinema e o Bairro, processo de curadoria como um gesto político, que ficou com Maria Fabíola Gomes, do Coletivo AudioVisual; O que é/pode um cineclube?, instigada pelos bolsistas da pesquisa Rafael Brasileiro, Jorge Silvestre e Beatriz Benitez; e Produção de uma Sessão com a Montagem dos Equipamentos, tema assumido pelo artista|pesquisador Pedro Fernandes, do Coletivo AudioVisual e da Associação de Moradores. Nos encontros, Fabíola partilhou de sua pesquisa de conclusão do curso de Cinema e AudioVisual da UFC, supracitada, trazendo questões sobre migração e a formação do Serviluz, as relações de vizinhança e amizade, bem como questões sobre curadoria, pensando as decisões estético-políticas ao se construir um cineclube, especialmente: o que é isto|exibido e o que deixamos de exibir. Foi discutida também a potência inventiva do cinema, pensando o cineclube como um processo de singularização.

Foram compartilhadas na oficina as experiências de curadoria nas sessões do Cine Ser Ver Luz, um processo que opera por questões estético-políticas que misturam, de maneira proposital, os mais variados materiais sonoros, visuais e audiovisuais, incluindo filmes (a maioria sendo curtas-metragens), fotografias e vídeos de sites de compartilhamento e redes sociais. Dessa maneira, amplia-se a possibilidade de partilhar a produção de imagens e sonoridades, uma vez que os moradores podem realizar vídeos|gravações e enviar para a curadoria, com a possibilidade de serem exibidos. O que entra em jogo é muito menos a qualidade técnica, e mais a ideia de uma expressão com o audiovisual. Nas palavras de Machado (1992/1993, p.8) o audiovisual procura uma linguagem própria, deixando de ser apenas um modo de registrar algo, um recurso pedagógico ou de documentação “[...] para ser encarado como um sistema de expressão”. 

Não é desinteresse pelo material audiovisual com “alta” qualidade de produção (com equipamentos de produção, gravação de som e um processo de montagem bem desenvolvido), mas ampliar as possibilidades de acesso às produções audiovisuais que pouco circulam nos cinemas da cidade e, principalmente, preservar a diversidade da linguagem audiovisual, considerando que essa produção “menor” opera como um processo de singularização.

As sessões do cineclube trabalham com temas partindo de questões que o bairro está passando e que o coletivo sente que são urgentes, cuidando também para serem temas abordados em audiovisuais com o bairro, sendo essa uma das ações do Coletivo: cartografar e tornar visíveis as produções audiovisuais realizadas com o Serviluz, entendendo o bairro como um território existencial. Nas palavras de Passos e Alvarez (2010, p. 133), “O território é uma assinatura expressiva que faz emergir ritmos como qualidades próprias que, não sendo indicações de uma identidade, garantem a formação de certo domínio”. Ou seja, sempre atento às novas demandas e situações que o bairro está passando, jamais considerando-o um território formado, mas em formação.

A exibição de material realizado com o bairro é um ato de resistência na medida em que percebemos que a maior parte da cobertura midiática lida com questões de violência urbana. Assim, a sessão também é uma narrativa que foge de algumas identidades atribuídas ao bairro, criando pontos de fuga ao denotar outras singularidades e modos de habitar o território. Não é tentar um contra-argumento para vencer a narrativa midiática convencional, mas superá-la ao tornar visível as  múltiplas maneiras de habitar o bairro que, como afirma Fabiola Gomes (2017), resiste e insiste em contar a sua história. 

Também conversamos sobre o tema/recorte de uma sessão e sua composição, com duração, em média, de 90 min, entendendo a sequência de filmes como um gesto poético. A cena final de um filme conversa com a primeira cena do seguinte. Ou pode ser o seu completo oposto. Alguns dos filmes que exibimos foram: Quintal, de André Novais (2015) e Capoeira, o valor de uma amizade (2013), esse último, realizado pelo morador e cineasta José Pastinha.

O terceiro dia de oficina seria de montagem de equipamentos, como caixas de som e projetor. Acontece, então, o acaso de um apagão em vários estados do nordeste do país. Nessa noite, poucos aparecem, mas todos os presentes toparam montar e desmontar os equipamentos no escuro da sala do NBS. Foi uma sessão imaginária, conversando que “Agora tocaria a música tal” e “Levanta a tela do projetor, pois está difícil para ver”, mesmo que nenhum dos equipamentos estivesse ligado.

O que estava em jogo em nossas conversas era perceber que não existe um modelo correto de montar uma sessão, mas que é possível ser criativo na sua produção e montagem.

Oficina Cineclube II
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 Oficina Cineclube
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Oficina Cineclube IV

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Textos de apresentação da Oficina de Cineclube

Autores: Rafael Brasileiro e Deisimer Gorczevski 

Livro: EDUCAÇÃO PARA CUIDAR E SAÚDE MENTAL PARA APRENDER: ações e reflexões no momento presente.
Organizadoras: Karla Rosane do Amaral Demoly e Maria Aridenise Macena Fontenelle. Editora UFERSA. (no prelo) 

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