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Proposta do Coletivo AudioVisual do Titanzinho em aliança com Associação dos Moradores do Titanzinho e o LAMUR (Laboratório de Artes e Micropolíticas Urbanas), coordenada por Rafael Brasileiro, bolsista da Pesquisa “Cinema in(ter)venção: Cine Ser Ver Luz” e participante do LAMUR, e por Pedro Rocha, participante do Coletivo AudioVisual do Titanzinho, realizada com estudantes da Escola Municipal Godofredo de Castro Filho. Foram dias de muitas conversas, encontros afetuosos e momentos de partilha de conhecimentos.

Durante a oficina discutimos o gesto contemporâneo da fotografia e produzimos uma série fotográfica que vem sendo exposta na própria escola.

A escola também como um local de intervenção e laboratório artístico.

Agradecemos a presença da profa. Deisimer Gorczevski, coordenadora da pesquisa, durante a exposição dos trabalhos e a colaboração de todos os professores da Escola!

Oficinas de Fotografia Contemporânea

 

Série fotográfica produzida com estudantes das turmas EJA da escola municipal Godofredo de Castro Filho durante uma oficina de fotografia contemporânea coordenada por Rafael Brasileiro e orientada pela professora Deisimer Gorczevski. A oficina faz parte da pesquisa Cinema In(ter)venção: Cine Ser Ver Luz e foi realizada pelo Coletivo AudioVisual e a Associação dos Moradores do Titanzinho e com o LAMUR.

Oficina de Fotografia Contemporânea
26 de junho de 2019

Oficina e Exposição "Quebra-cabeças humano"
25 de abril de 2019

Entendendo a situação política do Serviluz, o Coletivo AudioVisual, em conjunto com a Associação e o LAMUR, passou a realizar algumas oficinas de fotografia contemporânea com a intenção de problematizar e embaralhar alguns conceitos, em especial, a compreensão de “identidade” como identificação, assim questionado por Guattari e Rolnik (1996), e que tem como “resposta estético-política” entender os processos de subjetivação como uma outra possibilidade de operar com a vida.

Na proposição das oficinas também há o interesse em problematizar a figura do fotógrafo-artista, sugerindo uma presença menor no momento do clique fotográfico e maior no momento de conceituação teórica das fotografias, como sugere Joan Fontcuberta (2016, p. s/n) no Manifesto pós-fotográfico: “Sobre o papel do artista: já não se trata de produzir obras, mas sim de prescrever sentidos”.

Considerando essas intenções, foram realizadas duas oficinas na Escola Municipal Godofredo de Castro Filho, localizada no Serviluz, em maio de 2019. Nesta escola realizamos reuniões com professores das turmas de Ensino de Jovens e Adultos (EJA), apresentando a pesquisa e a relação com o Coletivo AudioVisual e a Associação, sendo que para disparar a conversa exibimos o vídeo AMOTITAN (2018), que apresenta a Associação e a história de luta e resistência dos moradores no embate com as políticas de remoção do governo municipal, além de apresentar o que pretendíamos realizar com as oficinas.

Percebemos o interesse por parte dos professores da escola com o fato de muitos deles não terem o hábito de frequentar o bairro onde trabalham, sem construir uma rede de experiências e vivências com o Serviluz. A maioria não sabia, por exemplo, das ameaças de remoção, por parte do poder público, que acontecem no território.

A oficina foi pensada para 20 participantes das turmas EJA, compostas por uma multiplicidade de estudantes com variados graus de escolarização e idades. Entendemos que não era necessária a alfabetização literária para participar da oficina, uma vez que acreditamos que a leitura de uma imagem requer uma ordem diferente de conhecimentos em relação às letras. Foram pensadas chamadas para a oficina durante as aulas, para que evitássemos formulários escritos, pois assim, de certo modo, já estaríamos limitando a participação de muitos estudantes que se sentissem intimidados pela forma de seleção.

A oficina de fotografia foi proposta para quatro dias. No primeiro, os participantes tiveram um momento de apresentação no qual falaram de sua relação com as imagens. Em que momentos do dia liam imagens, com que frequência produziam imagens, seguida de uma conversa mais teórica sobre o gesto fotográfico e a produção de imagens fotográficas, trazendo imagens de vários momentos históricos (sem seguir uma linha cronológica de apresentação), desde performances de Francis Aly e Berna Reale até fotos da prisão de Lula e discursos de Martin Luther King, escolhidas por afinidade afetiva e por serem imagens que, em conjunto, tensionam o lugar da fabulação na fotografia. A seguir algumas das imagens de trabalhos de artistas apresentados aos estudantes, no primeiro encontro. 

 

Pensando nas possibilidades de fabulação imagética, foi construído um jogo no qual os participantes foram divididos em grupos e receberam fotos impressas para que pudessem, sem nenhuma informação dos acontecimentos impressos nas fotos, inventar narrativas a partir do que era visto. Os grupos que começaram o exercício, talvez por certa insegurança, fizeram algo mais próximo a uma descrição do que aparecia nas fotos. Mas, com o passar do exercício, as narrativas começaram a ficar mais complexas, sugerindo mais informações e criando contextos para momentos anteriores e posteriores da fotografia, até que o último grupo a apresentar, auxiliado por estudantes dos outros grupos, criaram um personagem com nome próprio (inventado a partir de uma foto de crianças tomando banho), criando toda a história desde seu nascimento até sua morte, contando dramas familiares e momentos de conquistas.

O segundo encontro das oficinas foi construído de maneira que todos os estudantes presentes tivessem a oportunidade de fotografar os amigos, enquanto também eram fotografados. Ou seja, todos os participantes fotografaram e foram fotografados. Foram levados equipamentos e materiais para a produção das fotografias, como câmeras, luzes para a iluminação, tripés e um lençol branco para simular o fundo de um estúdio fotográfico.

Os estudantes foram convidados, no primeiro encontro, a trazerem diferentes materiais para criarem performances, fantasias, personagens para esse segundo momento da oficina, sugerindo um exercício de invenção de si. Vários estudantes apareceram arrumados com roupas coloridas e “chiques”, enquanto outros levaram maquiagem e se reinventaram. Uma estudante maquiou-se como bruxa, enquanto outro foi maquiado como o vilão Coringa.

 

Cada um dos estudantes escolheu uma fotografia entre todas as que produziram para que fossem impressas em tamanho A3 e levadas para o terceiro encontro. Nota-se que, numa oficina de fotografia contemporânea, produzimos um dos modelos de fotografia mais “clássicos”, o retrato, tão atrelado à identidade.

No terceiro encontro, propondo o tal “gesto contemporâneo”, convidamos os participantes a criarem uma espécie de colcha de retalhos com suas fotografias, oferecendo tesouras para recortarem os retratos impressos em A3. Enquanto alguns logo começaram a recortar suas fotos e a de seus companheiros de turma, outros agarraram-se ao que foi produzido e não aceitaram recortar. Incentivamos o recorte, mesmo com essa recusa.

Acontece que foram impressas três cópias diferentes de cada retrato, pensando justamente que duas seriam usadas no exercício e os participantes poderiam levar a última para casa. Foi só depois de anunciarmos que havia mais fotografias, incluindo uma cópia para ser levada por eles, que todos começaram a recortar mais desapegados.

A única orientação para o exercício era que a montagem das fotografias recortadas deveria ter um pouco de todos os participantes. Logo surgiram trabalhos com aspectos abstratos, extrapolando a noção do rosto (dois olhos, um nariz e uma boca).

Para o quarto momento da oficina foi organizada a exposição das colagens construídas nos encontros. Montada numa área de convívio da escola, por sugestão dos participantes, foi realizada a abertura da exposição Quebra-cabeças humano, nome escolhido por votação. As peças ficaram expostas por uma semana. Toda a produção das fotografias (com exceção das impressões) e o processo de montagem foram realizados com estudantes. É curioso notar como alguns chegaram mesmo a assinar as colagens, sugerindo um devir-artista.

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Textos de apresentação das Oficinas e Exposições de Fotografia Contemporânea

Autores: Rafael Brasileiro e Deisimer Gorczevski 

Livro: EDUCAÇÃO PARA CUIDAR E SAÚDE MENTAL PARA APRENDER: ações e reflexões no momento presente.
Organizadoras: Karla Rosane do Amaral Demoly e Maria Aridenise Macena Fontenelle. Editora UFERSA. (no prelo) 

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