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Oficina de Lambe
 

O lambe¹ foi uma das três modalidades de artes de rua vivenciada por cerca de quinze pessoas, entre crianças, jovens e colaboradores da pesquisa. A oficina de lambe foi a terceira, sendo antecedida pelas oficinas de graffiti e stencil, realizadas uma a cada sábado, do mês de setembro, na primavera de 2014. 

 

O cartaz lambe-lambe também conhecido por pôster lambe-lambe (em sua utilização artística) tem em sua singularidade o emprego da cola ou grude (cola artesanal). O cartaz pode ser feito de maneira seriada quando do uso de fotocopiadoras ou serigrafia, ou artesanalmente. É uma linguagem popularmente utilizada pela publicidade e pela arte urbana. (CHAGAS, 2015, p.26).

 

No inicio da oficina, priorizamos a conversa sobre a relação entre o cartaz lambe-lambe e a arte urbana, entendida aqui com um recorte que engloba linguagens como o stencil, o lambe e o graffiti trazendo diferentes contextos (internacional, nacional e local) e temporalidades e apresentando um breve cenário com destaque para a atualidade urbana de São Paulo e a força de alguns artistas e coletivos, em especial, alguns pioneiros como o SHN .  

Logo em seguida, foram apresentados os materiais usados para a colagem, isto é, pinceis, trinchas, rolos de espuma, tintas (em sua grande maioria do tipo guache), tubos de cola branca, baldes de plástico e os papéis onde seriam confeccionados os lambes. Materiais cotidianos que, em sua maioria, eram familiares ao grupo. 

Não demorou muito para que começassem a exercitar a imaginação. Ideias em linhas e cores foram surgindo gradativa e intensamente. Percebemos que o fato dessa oficina ter sido a última de uma sequência de três possibilitou congregar outras linguagens ao lambe. Este se tornou ponte, atravessado pela fotografia, o stencil, o graffiti, o desenho, a serigrafia e a pintura. 

Sair um pouco do tamanho tradicional do papel (folha A4) criou uma espacialidade dentro do processo de criação dos desenhos. Corpos se desfazendo das cadeiras e ocupando mesas e chão deixando a sala preenchida em toda a sua dimensão como um grande ateliê, onde a desordem de materiais, objetos e pessoas é comum ao processo de criação seja ele coletivo ou individual.

Ao sairmos pelas ruas, percebemos logo um clima de euforia e celebração acompanhando os meninos e meninas nas colagens. Constituiu-se um corpo coletivo em exercício de deriva, investigando com o olhar atento, possíveis lugares de afeto, construindo um diálogo com o desenho de cada um. Micro intervenção que acontece como desdobramento de um processo de criação partilhado coletivamente: todos desejando colar seus desenhos nas ruas onde moram e ou circulam cotidianamente.

Orientações foram dadas no decorrer do percurso da colagem sobre possibilidades de relação entre os espaços-tempos e as composições visuais criadas. Consequentemente desencadeou-se divergências nas escolhas, que apontaram para caminhos não percebidos levando-nos a pequenas descobertas, como o jardim da casa dos irmãos Helano e Edilano, na Rua São Pedro. O desenho de Helano apresentava um outro jardim, inventado, a partir de suas experiências cotidianas contagiadas pelo cuidado de sua mãe com aquele pequeno pedaço de terra fértil. E mais jardins se produziram, pelas micro árvores de João Miguel, um dos integrantes da pesquisa.

A oficina de lambe atuou como micro intervenção ativando a percepção de uma coletividade, que está sendo inventada, em diferentes espaços-tempos da cidade.

As micro intervenções que propomos, pretendem uma relação com as “linhas de fuga” que atravessam esses espaços, pois são de natureza fluida e surgem na entropia, no fluxo das experiências, como propõe Deleuze, à medida que:

 

É sempre sobre uma linha de fuga que se cria, não é claro, porque se imagina ou se sonha, mas ao contrário, porque se traço algo real, compõe-se um plano de consistência. Fugir, mas fugindo, procurar uma arma. (DELEUZE, PARNET, 1998, p.111)

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Texto introdutório e texto de apresentação da Oficina de Lambe retiradas do capítulo
"
Sobre poéticas políticas - micro intervenções na cidade de Fortaleza"

Autoras: Deisimer Gorczevski, Aline Albuquerque, Sabrina Araújo e Cecília Shiki 

Livro: Arte e Política : IV Diálogos Internacionais em Artes Visuais e I Encontro Regional da ANPAP/NE [recurso eletrônico]
Organizadores: COSTA,R.X.; CARVALHO, L. M.; ZACCARA, M.; SILVA, M. B. E. (Orgs.);
Programa Associado de Pós graduação em Artes Visuais UFPB/UFPE. – Recife : Editora UFPE, 2015. p. 335-350. 

https://issuu.com/jmlima/docs/sobre_poeticas_politicas_-_micro_in

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